Vida e Conhecimento
I
A vida como meio de conhecimento. Nietzsche acreditava que vida e conhecimento não constituíam pares opostos, mas uma unidade fundamental que caberia ao filósofo do futuro restituir, uma vez que a oposição – mais aceita, afirmada, com credulidade e orgulho, do que provada, diga-se de passagem -, havia sido imposta à vida, como instrumento para sua total negação. A história da filosofia é a história de terríveis golpes deferidos contra a vida, a história de incomensuráveis erros acerca do valor da vida; erros dos quais ainda não nos libertamos; para constarmos isto que vos digo basta observar como a canalha vê o pensador ou o estudante de filosofia: como um lunático, um fora de órbita, preso ao “mundo das ideias” (ideia capenga advinda de uma imagem distorcida do platonismo, que de modo algum se define pela distinção entre dois mundos, o aparente e o inteligível). A “vida contemplativa” – a do filósofo ou do cientista – seria como um adeus pomposo à vida – o filósofo como aquele que se recusa a viver para – para quê? – pensar. Pensar tornou-se um meio de negar a vida! O golpe de gênio dos filósofos foi terem descoberto como fazer do pensamento uma prática niilista par excellence.