Algumas considerações #4

A psicanálise em e para as marcas

Se Dolto está certa, e acredito que esteja, a criança, em seus estados pré- e edipiano, tem a fantasia fundida com o pensamento. Porém, e isso é algo que eles não viram nem nunca conseguiriam/conseguirão ver justamente pela superficialidade de seus conceitos, se a criança tem essa característica, então por que diabos eles pensam que as coisas acontecem nela ou são vistas por ela do jeito que eles relatam, com os conceitos que eles usam? Por que diabos a analidade é a consciência de morte na criança? Como poderia a criança relacionar as intensidades do excremento a sair com as intensidades da morte? Se o argumento é que a bosta é perdida pela criança e que essa perda se relaciona com a perda da morte… ora, como afirmar que a criança vê a própria bosta como perda? É o mesmo, me parece, que afirmar que a criança vê a saliva como perda, logo, uma criança que saliva é aquela que se relaciona com a morte, aquela que sente a morte. Haverá agora o argumento do cheiro da bosta que se diferencia do da saliva (se é que esta tem cheiro): muitas crianças se relacionam com a própria bosta como se fosse um brinquedo; cada brinquedo possui seu cheiro – cada um deles possui sua intensidade, seu devir misturado ao pensamento da criança, que é também fantasia, o que explica, aliás, a capacidade da criança se relacionar de modo especial em e com os cheiros da mãe. Se a criança possui consciência de morte, de modo algum ela está ligada com a analidade, que de modo algum é o indício de sua mortalidade para ela. Talvez a consciência de morte venha mais a partir do encontro de corpos ou na visão desse encontro – não que, aqui, eu esteja admitindo a alteridade, coisa que pra mim não existe, mas sim o sentido (por mais que as ciências kantianas de hoje a deplorem) –: a criança mata uma formiga; a criança vê um animal se alimentando de outro; a criança vê que a abelha morreu após picá-la. Três modos de encontros bem cotidianos e que permitem à criança a possibilidade de ter um encontro com a morte e traçar seus caminhos.

Há mais duas!

Pensamentos aleatórios #27

[O problema de gostar de ler na internet é justamente não conseguir parar de ler]

 

Racionalidade e Sabotagem: Uma visão sobre a ‘filosofia(?)’ de Alberto Caeiro.

 

Tudo começa quando postei aqui um artigo fracionado, prossigo agora falando de Alberto Caeiro(A.C.), Heterônimo de Fernando Pessoa – ‘homem’ simples, não alfabetizado, que dizia que não se deveria procurar sentido nas cosias que o rodeiam, que deveríamos sentir sem pensar – sem questionar.

 

“O que penso eu do mundo?

Sei lá o que eu penso do mundo!

Se eu adoecesse pensaria nisso.”

(em: Poemas de Alberto Caeiro)

Prometo ler até o final