Russell e o fraquejar da razão

      Que Russell se inscreva na tradição racionalista da filosofia e que por tal motivo tome emprestado o ceticismo tão-somente como um instrumento que lhe possibilitará dar conta de certos problemas concernentes à racionalidade (seus limites, seu funcionamento, sua natureza etc.) sem, no entanto, refutá-la, será admitido de pronto por nós. Tal verdade permitir-nos-á lançar luz à problemática da imagem do pensamento sob o prisma da filosofia da diferença. Acreditamos que uma tal filosofia é a única capaz de dar conta do problema da racionalidade sem cair nos velhos e enfadonhos disparates da tradição. Tal como Nietzsche (1844-1900) desconfiamos do valor da “razão a todo custo” e identificamos em Russell, mais especificamente em seu ceticismo paradoxal, a marca dessa desconfiança que, no entanto, se postará no nível do recalcado, como aquilo que se combate, que se deve combater. Russell se nega a levar adiante sua suspeita, ele ainda quer ser racionalista. E trataremos aqui dessa relação ambígua de Russell com o racionalismo, partindo da tese de que Russell será movido em suas investigações filosóficas por um racionalismo fraquejante.

      À Russell atribuímos uma vontade fundamental que o impele à crença, mesmo vacilante, na razão a todo custo. Russell é um romântico inveterado, ele está apaixonado pela Razão, e como sabemos, todo homem apaixonado pinta o objeto de sua paixão com as cores mais vivas e a orna com as mais belas pedras preciosas. Mas Russell será também o apaixonado que começa a duvidar das qualidades de sua musa. Ele começa a perguntar-se se a razão é mesmo capaz de servir ao progresso da humanidade, à liberdade e, como todo bom filósofo inglês, à felicidade dos homens (RUSSELL, 2010, p. 27).

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