Algumas considerações #3

Quando discordei de Clarice

Numa entrevista, Clarice disse que escrever pra crianças é mais fácil do que pros adultos. Talvez isso esteja certo para seu conceito de literatura infantil, aquela que ela não conta seus segredos. Mas é aí está a questão:  por que não? A maior dificuldade talvez esteja exatamente neste aspecto, pois, na verdade, nada deve ser escondido das crianças, elas são mais capazes do que podemos imaginar, e se se tornam idiotas é porque são tratadas desse jeito – eu cago muito seriamente nesse canal de imbecilização da infância chamado “Discovery Kids”. No fundo, a dificuldade é a mesma com os adultos: é preciso saber traduzir o que pensamos numa linguagem dançante – nós, escritores, artistas, filósofos, criadores da cultura, somos cupidos e a caneta é a nossa flecha – por acaso já viram como eles o fazem? As crianças estão bem longe de casa mesmo quando estão nela – por acaso nós estamos longe da escrita quando estamos nela? Ah, meus caros, é preciso ter pernas bem resistentes e a vergonha bem lá embaixo para entrar no uitae ludus. – O erro de Clarice foi apenas de nomes: ela mais escreve para as crianças do que para os adultos, e se era considerada hermética pelos padres das feias-letras, é apenas resquício do que eu escrevi.

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